Dom Natural – Paulo Lopes (SC)

Vinte e quatro anos de produção orgânica

Primeiro, é importante destacar que a família de agricultores que forneceu os alimentos desta cesta está entre os pioneiros da agricultura orgânica em Santa Catarina.

Em 1996, Glaico e Rosa – com os filhos Talita, Daniel e Paloma – adquiriram, através do Crédito Fundiário, uma pequena propriedade na Comunidade Santa Rita, em Paulo Lopes.

Glaico já era técnico agrícola e, apesar do “ensino no Colégio Agrícola ser voltado para o uso dos agroquímicos”, queria “ser agricultor e fazer agricultura orgânica”. Determinante para esta opção, ainda segundo ele, foi “ter nascido na roça e vivido com seus avós, pais e tios, que sempre produziram de uma forma natural”.

Ao plantar as primeiras lavouras, de pepino e melancia, enfrentaram, todavia, dificuldades, que existiam naquela época, para o acesso a insumos e a informações adequados ao sistema orgânico. Assim, “no desespero”, frente a uma possível grande perda, se “viram forçados a aplicar agrotóxicos”.

O interessante, segundo Glaico, é que os resultados desse primeiro plantio – especialmente o de pepino – foram “como tirar na loteria”. Isso porque obtiveram ótimos preços na venda. E foi essa boa entrada de dinheiro que permitiu, em seguida, que a família fizesse o que desejava e pudesse seguir firme na agricultura orgânica. E lá se vão 24 anos de persistência e coerência…

http://

Uma família, duas propriedades, um só empreendimento…

Hoje, o quinteto familiar compõe a “Dom Natural Orgânicos”, com duas propriedades agrícolas que produzem hortaliças e frutas. Uma é tocada por Glaico e outra, por Rosa. A comercialização é conjunta. A filha Paloma, mora com a mãe e contribui nas duas unidades. Ela responde, especialmente, “pela parte digital”: divulgação, contatos para cestas e preparação das feiras. Talita e Daniel contribuem apenas esporadicamente porque, no momento, têm outras atividades e projetos. Atualmente, mesmo a própria Rosa se sente “um tanto cansada” da atividade agrícola.

Uma parte da produção é para o autoconsumo dos membros da família ou é vendida no próprio local. A maior parte do que é produzido é comercializada em “feiras livres”. Na feira da Lagoa da Conceição, na qual também são pioneiros. E na feira mais recente, realizada no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), que resulta de uma parceria com a Acolhida na Colônia.

Glaico destaca que, “em determinadas épocas do ano, respeitando as estações, chegamos a produzir mais de 50 itens diferentes de hortaliças”. “Essa diversificação só é possível quando se comercializa diretamente em feiras livres. Porque, nessas feiras, quem dita as regras é o consumidor e não o mercado tradicional e seus atravessadores”, avalia o agricultor.

O “balanço”, de longo prazo, que faz o Glaico

“As relações constituídas com pessoas, nesses 24 anos, não podem ser estimadas em valores… Pela amizade, pela confiança, pela troca de conhecimento… E por tantas outras relações que só nos fazem bem. Isso não se conquista com dinheiro!” E conclui: “Ainda temos muito o que aprender […] até completar o ciclo virtuoso proposto pela Agricultura Natural: a Saúde leva à Prosperidade, que leva à Paz. E se for com Solidariedade, muito melhor!”

A crise do Covid-19 e seus impactos

Com o início da pandemia, as aulas no IFSC foram suspensas e a feira não está acontecendo. O mesmo aconteceu com a “feirinha da Lagoa”, com a restrição de aglomerações. “Como a produção continuou, esse estrangulamento nas vendas gerou um importante desequilíbrio”, afirma o agricultor. “Por outro lado, outras pessoas estão nos procurando, porque estão vendo novas oportunidades para entrar na comercialização de alimentos orgânicos”, ponderou Glaico.

Depoimento:

A importância de participar do “Orgânico Solidário”

“Acho que é um desejo de todo produtor agroecológico ver nossos produtos chegarem, de forma solidária, a trabalhadores com renda limitada. Muito se fala que isso é necessário, mas pouco se faz para que de fato aconteça. O agricultor faz apenas uma parte do processo. É necessário que mais pessoas se envolvam, para permitir que o circuito aconteça. Seja na organização dos consumidores, Seja na organização do agricultores. Seja no transporte… A proposta do Orgânico Solidário é a materialização disso tudo!”

Glaico José Sell

Agricultor Orgânico

Paulo Lopes – SC