Sítio Paraíso da Terra – Alfredo Wagner (SC)
Uma história vista como uma vitória
No ano de 1999, o então jovem casal Fabiano de Andrade e Janinha Pereira foi sorteado para ter acesso ao Banco da Terra, programa de crédito fundiário do Governo Federal. Dessa forma, em 2000, conseguiu comprar um terreno de 17,5 hectares, em Invernadinha, no município de Alfredo Wagner. O filho Héliton tinha, à época, apenas quatro anos. A propriedade adquirida estava toda estruturada para a produção de tabaco. Sem recursos, não restou outra alternativa para Fabiano e Janinha senão começar cultivando o fumo. Logo, contudo, estavam confrontados a problemas de intoxicação por agrotóxicos e de endividamento com as empresas fumageiras.
Naquele mesmo momento, a Central Única dos Trabalhadores realizava um programa de formação de agricultores familiares chamado Terra Solidaria. A família começou a participar das reuniões e formações propostas pelo programa. Em consequência, se juntou a um grupo para a produção agroecológica de alimentos. Começou, assim, o processo de “transição” da propriedade, com a diminuição gradativa da produção de tabaco e o aumento da produção orgânica. Nesse período de transição, nasceu a filha Carine.
Em 2004, a “conversão” da propriedade estava completa e ela passou a ser certificada pela Rede Ecovida.
É o jovem Héliton quem afirma: “Lá se vão dezesseis anos de um novo modo de vida, de aprendizagem em agroecologia, de foco na produção de alimentos com cuidado com o meio ambiente… A mudança nos trouxe mais harmonia e saúde, assim como nos proporcionou segurança alimentar. Além do que, podemos oferecer alimentos de qualidade para outras pessoas. É uma vitória que, hoje, podemos compartilhar!”
Agricultura familiar diversificada e orgânica
Em um processo de sucessão antecipado e realizado com muita serenidade, hoje quem está à frente da unidade familiar de produção é o filho “mais velho”, Héliton, com apenas 23 anos. Vivem e trabalham na propriedade além de seus pais, Fabiano e Janinha, a irmã, Carine (17 anos), e o irmão Cauan (13 anos).
Destaque-se que Héliton não é só agricultor. É também estudante da Universidade Federal de Santa Catarina. Faltam apenas dois semestres para ele concluir a Licenciatura em Educação do Campo, em uma turma “interiorizada” e ofertada, pela UFSC, em Alfredo Wagner.
A produção – toda orgânica – da família é bem diversificada, com frutas (laranja, bergamota, ponkan, pêssego, amora, além de várias espécies frutíferas nativas), hortaliças, legumes, tubérculos, temperos e chás.
Uma parte do que é produzido vai para o consumo da própria família. O “excedente”, como eles dizem, é vendido preferencialmente em Alfredo Wagner mesmo. Seja em venda direta na feira local, seja para a merenda escolar (Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE). Uma parte de produção é entregue, na forma de cestas, para Células de Consumo Responsável (CCR), na Grande Florianópolis, ou para a Cooperativa Ecoserra.
A crise da Covid-19 e a oportunidade do Orgânico Solidário
“Os impactos da crise do Coronavirus foram, sobretudo, em relação às nossas entregas para a merenda escolar no município. Como as aulas foram suspensas, não houve mais pedidos. Isso afetou muito a nossa renda familiar”, conta Héliton. Que conclui: “Poder entregar alimentos de qualidade para famílias que deles necessitam, em um sistema como o do Orgânico Solidário, aparece para nós como essencial. Primeiro, porque viabiliza o escoamento, a preços justos, de uma produção da agricultura familiar que ficaria ‘encalhada’. Segundo, porque, nesta crise sanitária e econômica, permite que nossos produtos sejam entregues diretamente para quem precisa e merece comer bem, especialmente nessa crise sanitária e econômica”.