Moinhos de Luz – Rio Fortuna (SC)
Propriedade dos jovens agricultores Reinaldo e Estefani, além dos pais Lino e Arlete
Agricultura Familiar agroecológica, “de cara jovem” e “meio diferentona”
As expressões “de cara jovem” e “meio diferentona” são de Stefanie (26 anos) que, junto com Reinaldo (28 anos), forma o casal de agricultores protagonista dessa entrega de cestas.
Reinaldo, em conjunto com sua mãe, Arlete, e seu pai, Lino, sempre esteve ligado às lidas da agricultura em Rio Fortuna, um pequeno município rural.
Stefanie, já havia vivido em Maringá (com mais de 420 mil habitantes), tinha cursado três anos de uma faculdade de “Design” e trabalhado nos setores de faturamento e acolhimento de clientes de uma empresa de produtos naturais. Por “não aguentar a cidade-grande”, ela voltou para a Criciúma onde havia nascido, mas já estava achando que também aquele aglomerado urbano era grande demais para viver.
O encontro desses dois jovens aconteceu em uma festa em Criciúma. Reinaldo “deu umas olhadas”, mas ela achou que ele estava acompanhado. Por isso, “jogou duro”. Depois de superado o mal-entendido, “começaram a se falar”… Em seguida, vieram as visitas de Reinaldo. Em seis meses, estavam noivos. E em um ano, casados. Segundo eles: “se tem que fazer, por que enrolar?”
Perguntamos a Stefanie como havia sido essa mudança “para o interior e para a agricultura”. Ela responde que “sempre gostou de cidade pequena, desde que nela tenha internet e um bom comércio” e que, “hoje, a roça não está tão isolada”. “Aqui [na propriedade], temos internet e estou a quinze minutos de um hospital”, completa Stefanie. E arremata seu raciocínio: “Tenho problemas respiratórios e com a alimentação orgânica, a vida e a paisagem do interior e a possibilidade de definir meu ritmo de trabalho – ou seja, a tranquilidade mental, eu vi minha saúde melhorar 100%”.
Insistimos: e a agricultura? “Eu tenho sinusite, renite e muitas outras ‘ites’, que não me permitem acompanhar o Reinaldo no trabalho na agricultura. Eu admiro o que ele faz e a forma como ele se dedica, mas nem todas as mulheres podem ser aquelas agricultoras que fazem tudo na roça, como faz a Arlete, que é uma máquina de trabalhar. Aí vem a importância do complemento no casal. Eu gosto da administração e de cuidar das vendas e da logística. Assim, é ele na ‘prática agrícola’ e eu na gestão”.
Reinaldo faz questão de intervir: “Antes da chegada da Stefanie, a nossa família produzia, vendia, mas muitas vezes não recebia e nem sabia. Estávamos pagando para trabalhar. Ela implantou nota fiscal eletrônica, boletos, controle de recebimento dos pagamentos e fez toda a diferença”.
Stefanie aproveita a bola quicando: “Eu trabalho pelo empoderamento da mulher agricultora, para que ela compreenda que gestão, vendas, negociação de preços e logística são parte muito importante da agricultura familiar. E também que é imprescindível que a mulher tenha dinheiro ‘na mão’. Isso é muito difícil quando ela está num casal e não tem acesso às finanças. Então, se é ela própria quem controla o financeiro, isso é empoderamento da mulher”.
A propriedade, sua produção, suas vendas e seus corações que enchem…
A unidade familiar de produção tem 7 hectares e produz “hortaliças e frutas em geral”. Arlete cresceu nessa área e, depois, juntamente com Lino, a comprou de seu irmão. Em seguida passou para o filho Reinaldo. Antes, na área, eram produzidos leite e fumo, no sistema convencional. Em 2016, houve a conversão da propriedade à agricultura orgânica e a certificação da sua produção. Nela trabalham Stefanie, Reinaldo, Arlete e Lino, que moram na sede do município. Sobre esse trabalho, Reinaldo é filosófico: “ter uma propriedade sustentável, com ética e com o ideal da permacultura e da agrofloresta, é sempre tem o que fazer. Eu vejo que fizemos muito, mas que há muito mais o que fazer. Mas cada passinho que a gente dá, aqui no lugar onde a gente está, é como se o coração da gente se enchesse mais. Ir para a roça e ter a Stefanie ao meu lado são as coisas que eu mais amo!”
A Crise da Covid-19 e a oportunidade que representa o Orgânico Solidário
Até a crise da Covid-19, as vendas principais eram feitas para restaurantes e para a merenda escolar. “Os fechamentos das escolas e dos restaurantes”, decorrentes da pandemia, “resultaram em grandes dificuldades para a propriedade e para a rede de agricultores que ela articula”. Reinaldo relata: “Tudo estava mudando muito rapidamente e estávamos perdendo um monte de clientes e boa parte da nossa renda. Não sabíamos o que iria acontecer. Não sei o que seria sem o Orgânico Solidário. A oportunidade desse programa, além de nos ajudar na renda, nos ajudou a pensar num projeto diferente para esse momento e para o que vem pela frente. A pensar em cestas e em vendas diretas, sempre buscando uma relação mais próxima com o consumidor”.
A importância de participar do Orgânico Solidário:
“Ficamos felizes em participar do Orgânico Solidário porque, além de nos ajudar na renda, o programa contribui para que nossos produtos cheguem a famílias que normalmente não teriam acesso a alimentos orgânicos dessa qualidade”. Reinaldo Guilherme de Souza