Grupo “Flor do Fruto” – Biguaçu (SC)

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Atualmente, esse grupo reúne dezessete famílias de quatro municípios da Grande Florianópolis: Biguaçu (12 famílias), Antônio Carlos (3), Palhoça (1) e Santo Amaro da Imperatriz (1). São famílias com diferentes perfis e histórias, mas, em todas, a agricultura é o principal trabalho e a fonte de renda mais importante.

A maioria (onze) das famílias é originária do espaço rural e da própria agricultura familiar. As demais (seis) famílias são o que se chama de “neo-rurais”. Ou seja, pessoas que resolveram sair das cidades para ter, no campo, uma relação melhor com a natureza e com as outras pessoas.

O mais importante para todos nós: todas as sessenta pessoas que compõem essas famílias e o Grupo “Flor do Fruto” fizeram a opção pela agroecologia, seja como base para prática da agricultura, seja como um “modo de vida”.

Como tudo começou e a “caminhada”…

A história do “Flor do Fruto” teve início em 2004, quando alguns produtores de “banana do mato”, de Biguaçu, resolveram entrar na Rede Ecovida. A “banana do mato” é aquela produzida em bananais centenários, em sistemas de agroflorestas. Isso quer dizer que as bananeiras estão na mata e são associadas com outros cultivos alimentares.

Em 2007, novas famílias ingressaram no grupo e houve uma importante diversificação da produção, especialmente com hortaliças. Além de ampliar o número de famílias, a partir de 2013, o “Flor do Fruto” foi aumentando também a sua área de abrangência para mais municípios. E havia, ao mesmo tempo, um aumento da diversidade dos alimentos ofertados, como o fruto da palmeira Juçara (conhecido como “açaí de juçara”) ou flores comestíveis. As famílias de “neo-rurais” incorporaram, ainda, novas atividades como o turismo rural, a agroindústria rural de pequeno porte e a produção de ovos.

Os diferenciais da produção orgânica, do trabalho familiar e da certificação participativa

A produção alimentar do grupo se dá em propriedades que variam de meio hectare (menor do que o gramado de um campo de futebol) até vinte hectares (equivalente a 28 campos de futebol juntos). A maioria das unidades familiares de produção está na faixa de cinco hectares (área mais ou menos igual a sete campos de futebol juntos).

Quem trabalha nas lavouras são os membros das famílias associadas. Apenas nos períodos em que se precisa de muita mão-de-obra são contratadas outras pessoas, que trabalham “por dia”. Anderson Luiz Romão, que é agrônomo, produtor e coordena o “Flor do Fruto”, faz questão de destacar que “no grupo, há alguns casos de filhos que saíram da propriedade para trabalhar ‘na cidade’, mas decidiram voltar para casa pela possibilidade de trabalhar com agroecologia e de agregar valor aos alimentos que são fruto de sua lida”.

Perguntado sobre a produção orgânica e a certificação, Romão esclarece: “Temos famílias que trabalham com a agroecologia há mais de vinte anos. O sistema de certificação é participativo. Isso significa que para garantir ao consumidor que as normas de produção orgânica são estritamente respeitadas, são realizadas visitas em todas as propriedades dos associados. Como são outros agricultores que realizam essas visitas, há bastante troca de experiências e o fortalecimento da consciência de que manter uma propriedade equilibrada é o melhor caminho para não ter problemas com insetos e doenças nas lavouras”.

As vendas e a Crise da Covid-19

Em condições normais, a produção do Grupo “Flor do Fruto” era, em grande parte, vendida em feiras livres e para a merenda escolar das Redes Municipais de Ensino de Biguaçu e Antônio Carlos. Vendiam, também, para restaurantes, para agroindústrias e para mini ou supermercados.

Sobre os efeitos da crise sanitária, mais uma vez, o coordenador do grupo é quem relata: “Com a pandemia, nossos principais canais de comercialização [feiras e merenda] foram totalmente paralisados. O fechamento dos restaurantes e de alguns comércios só fez agravar o problema de escoamento da produção. Nossas plantações foram planejadas e realizadas para atender toda essa demanda, que praticamente sumiu de um dia para outro. O resultado foi a ‘sobra’ de alimentos em nossas propriedades. E um impacto negativo muito forte em nossa renda”.

Para diminuir tais impactos, as famílias associadas procuraram se apoiar umas as outras, dando prioridade àquelas que estavam mais necessitadas. Além disso, procuraram ativar suas redes de contatos e criar alternativas. São os casos da entrega de cestas num projeto ligado à Universidade Federal de Santa Catarina chamada de “Células de Consumidores Responsáveis” ou a realização de uma feira quinzenal em frente ao terminal central de ônibus de Florianópolis. Com esses esforços e com a retomada parcial de entregas para restaurantes, contudo, não se alcançou, ainda, 30% do que o grupo comercializava antes da pandemia.