Verginio Moretti – Bom Retiro (SC)
Seu Verginio e sua “volta para o futuro”
Vamos apresentar o agricultor Verginio Moretti e seu filho Gustavo Henrique. Eles são os pequenos agricultores familiares que forneceram os alimentos saudáveis que compõem essa “cesta” que a sua família está recebendo.
Eles moram na comunidade de Santa Clara, em Bom Retiro, na beira da Rodovia 282. A propriedade agrícola deles tem meio hectare (5 mil metros quadrados, menor que um campo de futebol)
Mas, vamos ao começo dessa história.
Seu Verginio é filho de agricultores familiares de Bom Retiro mesmo. Os pais dele produziram “no convencional e em monocultura”, primeiro fumo, depois feijão e em seguida cebola. Quando ele recebeu um pedaço de terra do pai, em herança, também produziu cebola. Por vinte anos, sempre “com adubo químico e veneno”. Até quase “quebrar” financeiramente. Como ele lembra: “A gente fazia um giro de 100 na safra. E ia ver, estava devendo 110 na [loja] agropecuária”. E tinha a saúde e a qualidade de vida da família: “Eu via que produzindo com veneno [agrotóxicos] estava me contaminando… Eu sempre sentia dor de cabeça depois das pulverizações. Então pensei no que queria para mim e para os meus filhos no amanhã”.
E ele passou para a agricultura orgânica. Isso foi em 2000, há vinte anos.
Seu Verginio lembra emocionado das dificuldades relacionadas a essa mudança:
“O mais difícil era ouvir os vizinhos e parentes dizerem que eu e minha família iríamos passar fome. Diziam que ao invés de eu acompanhar a tecnologia, eu estava voltando para o tempo antigo. Eu sofri praticamente uma exclusão social. Porque diziam que não ia dar certo. Eles só pensavam no dinheiro! Mas quando se entra no orgânico, tem que mudar a consciência e pensar na qualidade de vida.”
Perguntamos se a “conversão” para a agricultura orgânica de fato tinha trazido mudanças e ele respondeu:
“Mudou! Nós passamos a produzir bem e a nos alimentar com qualidade. E hoje não tomamos nenhum tipo de remédio. E os que nos criticaram tomam 5 ou 6 tipos de remédios controlados… para depressão, para essas coisas…”
A (atual) propriedade agrícola e a produção
Há oito anos Seu Vergilio resolveu vender a propriedade agrícola que havia recebido do pai e comprar a atual. “Eu me apaixonei por essa propriedade. Tinha parreiras de uva, kiwi, muitas outras frutas e amora, que eu nem conhecia. Tudo orgânico e certificado. E água que vem do morro, de ótima qualidade, farta, que chega por gravidade. Mais? Ficava na beira da BR 282. Vendi aquela e comprei essa. Aqui pretendo continuar vivendo”.
Sobre a produção que ele e o filho Gustavo Henrique (que é técnico-agrícola) tocam, ele descreve: “A amora é o carro-chefe. A uva e o kiwi também são importantes… E mais, tudo pouquinho: caqui, butiá, pêssego, ameixa, pera e várias frutas nativas. Recentemente, passamos a produzir também chuchu, folhosas e temperos. Diversificamos bastante e passamos a produzir aquilo que os consumidores pedem. E estamos investindo no cultivo protegido, em estufas”.
Os efeitos da Crise da Covid-19
Como associados à Cooperativa Ecossera, viram as vendas para a merenda escolar praticamente parar. As pessoas de outros municípios para fazer compra direta de amora, para fazer geleia, desapareceram. As vendas para restaurantes e lanchonetes de polpa de frutas congelada praticamente pararam.
Como resultado: “Estou com os freezers cheios. E agora vem o inverno e se consome menos suco… Esse ano, eu tenho medo que vá sobrar amora…”
De forma positiva, Seu Verginio vê também que foi criada uma oportunidade. A de pensar novas formas de comercialização. “Eu estou pensando em fazer venda ainda mais direta. Em montar uma lojinha aqui [a propriedade fica na beira da BR 282], para vender meus produtos”.
Depoimento de Verginio Moretti sobre a importância de participar do programa Orgânico Solidário:
“Justamente, pela solidariedade! Eu vejo que no mercado os produtos orgânicos chegam muito caros. E eles não precisam ser tão caros. O que é preciso é dar condições para que famílias de baixa renda tenham acesso a um alimento de qualidade. Eu sou um pequeno agricultor pobre. E não me sinto bem ao pensar que para eu melhorar de vida vou ter que tratar com alimento saudável só uma elite, só uma classe alta. Que, no fim das contas, quer ver o nosso fim… É muito bom poder alimentar bem a nossa classe!”